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As revoltas populares no Irã e suas lições para o Brasil



Coluna: Daniel Bezerra

Após 52 dias de protestos contra o assassinato de uma jovem de 22 anos pela chamada "polícia da moralidade" por não usar um véu na cabeça (Hijab) considerado sagrado e obrigatório pelo regime teocrático iraniano, desde então  o País se tornou uma espécie de bomba relógio acionada.


Em reação ao espancamento e morte de Mahsa Amini, dezenas de milhares de mulheres saíram às ruas sem o véu, muitas em uma explícita demonstração de afronta ao líder supremo aiatolá Khamenei, queimaram véus e imagens do líder religioso.


Uma potente onda de solidariedade uniu diferentes etnias do país Persa, de segmentos mais pobres da sociedade à classe média até chegar em seu ápice nos últimos dias no interior das universidades. 


Milhares de estudantes universitários uniram-se à causa por liberdade e democracia potencializando ainda mais os protestos. Crianças, jovens adolescentes também fazem parte do front de resistência popular.

 

A reação do regime político-religioso  aos atos já resultou em repressão violentíssima, dezenas de mortes e milhares de pessoas presas sem nenhum direito de defesa jurídica segundo a Human Rights Watch, organismo internacional que acompanha o conflito. 


Mas, o que é a "polícia da moralidade?" 


Essa polícia foi criada pelo estado iraniano com único intuito de fiscalizar as regras morais com base na lei islâmica na sociedade, em especial o comportamento feminino. O véu (hijab) por exemplo é um símbolo sagrado do islamismo e seu uso é inegociável. O não uso é infração máxima com prisão e aulas de ressocializacão, ou seja, um crime considerado grave pela lei religiosa. 


E qual lição o Brasil pode tirar desse movimento singular em uma ditadura? 


Não é pelas enormes discrepâncias culturais que lições importantes podem ser absorvidas pelo Brasil. 


No último dia 30 de outubro o país elegeu Lula da Silva de forma limpa e democrática, dando uma demonstração da importância da manutenção da democracia e alternância de poder.


Seu adversário, o atual presidente, eleito em 2018, teve como foco principal,  o ataque às instituições de fiscalização e teve como um dos pilares de apoio, uma parcela de líderes evangélicos que ignoraram de forma cínica e dissimulada os reais problemas do país. 

Na sanha obstinada de instalar no Brasil uma espécie de autocracia com a figura do presidente derrotado em 30 de outubro como líder messiânico, centenas de lideranças evangélicas com uma poderosa rede de fake news e usando o nome de Deus como fiador de interesses nefastos, tocaram terror em seus fiéis colocando suas ideologias  e teorias conspiratórias delirantes de boteco de esquina como pauta principal da corrida eleitoral. 


A intenção desses pastores era enfiar goela abaixo do país, suas opiniões e visão de mundo de forma absolutista, demonizando qualquer opinião contrária. Tudo que os iranianos hoje travam uma louvável batalha contra. 


Aqui quase metade do país, talvez por desinformação, ou de forma inconsciente e em boa parte conciente e maliciosa, parcela considerável,  e isso é inegável, almejam até no pós eleição um regime no Brasil nos moldes do regime iraniano. E esse movimento vai continuar. 


Aqueles que amam de verdade a liberdade e pretendem restaurar em nosso país uma democracia saudável, mantenha-se em alerta constante, o golpismo estará sempre à espreita, e a luta não terminou.

1 Comentários

  1. Ótima leitura, o colunista e esse blog estão de parabéns pelo total aprofundamento nesse tema, vemos as mudanças que o Oriente Médio vem vivendo e isso pode ser a porta de entrada para mudanças essenciais na evolução de novas civilizações em países tidos como extremamente conservadores e patriacados.

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